Eu tenho uma ferida aberta
do tamanho do Mar da Galiléia:
ela é um espelho de águas turvas,
tão profundas quanto o ponto
mais baixo da Terra.
Eu tenho uma ferida ardendo
qual meio-dia no Mar Morto -
ela queima ao sol veemente,
junto às cinzas já sem nome
que só em morte unem os povos.
Eu tenho uma ferida aberta
que arrancou parte de mim -
como um povo sem território,
como uma terra sem abrigo,
como uma religião sem deus…
[como uma bomba lançada
sobre flores inúteis
que perfumam com sangue
os espinhos da perda…
como a poesia irregular
que esquece rima e métrica
e confessa a sua falha
em vencer a verdade]
A minha ferida abriga
a minha dor e as alheias.
Pois as minhas raízes
sangram em outro chão,
mas já não têm pátria,
e parte de mim se refugia
junto a um muro invisível
onde a paz me bate à cara
- em tons de cinza - feito pedra
de utopias sem valor.
Eu tenho uma ferida em mim
que se recusa em fechar:
como se acordos existissem
para serem violados
pela política estupradora da guerra.
A minha ferida, contudo...
assim como o Mar da Galiléia,
é doce, e não salgada:
apesar de cortar-me o ao meio
[a Palestina de minha alma]
é ela que se ocupa
em manter-me vivo! -
como a fértil memória ardente
que cauteriza despedidas
no por-do-sol dum fim de tarde.
E ai! Pudera eu, poeta do absurdo,
abrigar a dor do mundo
nos meus versos transformados
em pátria sem fronteiras
a todo refugiado…
Ai! Pudera eu,
colher a rosa e os espinhos
esmagados no caminho
que a farda desviou
dos pés de algum soldado...
A minha ferida já não mata:
[e o que pior seria?]
jorra sangue em vida,
torturante e incontida,
Da minha ferida brota… o amor.
do tamanho do Mar da Galiléia:
ela é um espelho de águas turvas,
tão profundas quanto o ponto
mais baixo da Terra.
Eu tenho uma ferida ardendo
qual meio-dia no Mar Morto -
ela queima ao sol veemente,
junto às cinzas já sem nome
que só em morte unem os povos.
Eu tenho uma ferida aberta
que arrancou parte de mim -
como um povo sem território,
como uma terra sem abrigo,
como uma religião sem deus…
[como uma bomba lançada
sobre flores inúteis
que perfumam com sangue
os espinhos da perda…
como a poesia irregular
que esquece rima e métrica
e confessa a sua falha
em vencer a verdade]
A minha ferida abriga
a minha dor e as alheias.
Pois as minhas raízes
sangram em outro chão,
mas já não têm pátria,
e parte de mim se refugia
junto a um muro invisível
onde a paz me bate à cara
- em tons de cinza - feito pedra
de utopias sem valor.
Eu tenho uma ferida em mim
que se recusa em fechar:
como se acordos existissem
para serem violados
pela política estupradora da guerra.
A minha ferida, contudo...
assim como o Mar da Galiléia,
é doce, e não salgada:
apesar de cortar-me o ao meio
[a Palestina de minha alma]
é ela que se ocupa
em manter-me vivo! -
como a fértil memória ardente
que cauteriza despedidas
no por-do-sol dum fim de tarde.
E ai! Pudera eu, poeta do absurdo,
abrigar a dor do mundo
nos meus versos transformados
em pátria sem fronteiras
a todo refugiado…
Ai! Pudera eu,
colher a rosa e os espinhos
esmagados no caminho
que a farda desviou
dos pés de algum soldado...
A minha ferida já não mata:
[e o que pior seria?]
jorra sangue em vida,
torturante e incontida,
Da minha ferida brota… o amor.
Este é o grande trunfo do "Espírito de Gravidade", nosso maior inimigo (o mesmo que acelera o encontro das bombas com o solo):
ResponderExcluir"da falha da arte
em vencer a verdade..."
E não tem antídoto...
Não tem verso clichê, ou com superpoderes capazes de estancar a ferida que sangra... Sangra aí. Sangue aqui. Somos todos refugiados de um mundo seco, tentando mentir a dura realidade da hipócrita vida em sociedade, pela arte...
Deixemos o Espírito de Gravidade falar, afinal, ele tem razão!
Mas a razão é só o que ele tem...