sábado, 15 de dezembro de 2018

Por-do-Sol na Sunbridge Road

Às cinco da tarde 
de um dia amarelo,
a liberdade míngua
à sete chaves
no claustro de um
apartamento -

mas a lua da tarde,
dona de si,
bate à janela
num sonho crescente 
de desprendimento:
toma os céus 
por espontânea vontade.

O sol, acanhado,
num brilho singelo,
se esconde nas nuvens 
da realidade, e 
espiando, encantado,
o quarto crescente
não fica, nem parte:

[No quarto, o poeta
trancado pro mundo
sonha com astros
flertando no céu 
ao passo que o vôo
do tempo é latente]

Preso às amarras
de um firmamento
que lhe fez astro rei,
o Sol enrubesce
o céu feito espelho
de seu sofrimento.

E a Lua, rainha,
cresce em convite 
ao passeio da tarde,
negado ao sol
e à vista nublada 
do meu apartamento.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

ODA A FREDERICO GARCÍA LORCA

Lorca, poeta gitano
llego a Granada y lloras
una fuente poética sin fin
que lava todo desde el cielo

Pero el agua que me corre la piel
es rima, que, en lugar de mojar,
quémame el alma en pena
de siempre callejear

Corazón gitano,
corazón gigante!
Pedazos de sueños rotos
esparcidos en las calles…

Corazón gitano,
corazón gigante!
versos pulsantes
en la lluvia de Granada

De la Alhambra al suelo
donde el agua en las aceras
acumulan el ronquido
enfadado de dios

De Albaicín y Elvira
donde el verde y las palomas
vuelan en versos todavía
encarcelados en mí,

soy yo mismo un espejo
de tus imposibilidades -
sueños silenciados
en un puñal de poesía

Corazón gitano,
corazón gigante!
versos de muerte en vida
que resuenan a la infinidad

Corazón gitano,
corazón gigante!
amante de los verdugos,
herido de la realidad.

Granadino, tu ánimo pulsa
bajo la lluvia de Granada,
donde se enterró un poeta
para hacer brotar la poesía.


segunda-feira, 1 de outubro de 2018

The Grains of the Hours

Grain after grain
time falls in gravity
of a handful of hopes
vanishing in the hourglass

Grain after grain
time escapes through the fingers
of my handful of nopes
where but emptiness lasts

Seasons are passing by
and the dreams of this poet
resemble a final verse

returning to gunpowder
the white sheet of poetry
will be fired now instead


quinta-feira, 27 de setembro de 2018

A Estrada

A serpente negra que dormia lá fora
e arrastava-me as noites mal dormidas
entrelaçou-se à vista da janela,
pediu parada em vez de partida.

Não fosse o amarelo desta lida,
não fosse o outono de outrora,
a serpente negra estremecida
não apelava o passo de agora.

Negra estrada, passos negros,
bailarina no escuro do segredo,
meus olhos ingênuos perdem-se
em tuas cores sem matiz...

Quero o querer do teu silêncio,
sedutora estrada contorcida,
adivinhar-te o fim e todo o meio,
‘inda que sejas sem saída.




quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Do prazer da saudade

É bom falar poeticamente de saudade

Pois só poetiza saudade quem a tem

Só tem saudade quem amou de verdade

E saudades poéticas doem, quando vem


Só sente dor quem tem no peito vida

E vive bem quem tragicamente a sente

Sentindo a dor se alegra com a ferida

Ferida é a marca de uma vida urgente


E é tão urgente afirmar aqui que amo

E nesse amor há dor prazer e medo

Mas não existe ao coração engano


Sente o que sente e bate sem segredo

E na saudade a construção de um plano

De ver de novo o que sinto é não vejo.


https://youtu.be/xDE1LotmAqY


terça-feira, 10 de julho de 2018

A mulher de Susyia

No horizonte de algum lugar,
entre o nada e o fim do mundo,
há uma mulher sem nome,
sob um sol que tudo queima.

Ela tem as mãos vazias,
e cobre os olhos pra enxergar,
no horizonte de algum lugar,
o que ninguém mais vê.

Na terra onde o sol 
traz a morte, não a vida,
onde a pólvora beija o chão,
em rotineira despedida;

Na terra onde o ódio 
transformou a poesia -
de versos pra sentenças 
de morte e rebeldia...

Na terra onde o lar
é um nome numa pedra,
e crianças são educadas,
sem livros, sobre a guerra;

Na terra onde mulheres
parem certidões de óbito
de vidas destinadas
a ceifa pelo ódio...

Uma mulher sem nome caminha.
E no horizonte desse lugar -
a beira do fim do mundo -
ela veste... verde.

[Cubra os olhos, querida,
e me ensina a tua sina
que meus versos perecíveis
não conseguem descrever!]

No horizonte de Susyia,
só o seu hijab é verde:
a esperança, que eu não via,
cobre o seu corpo inteiro.


Por-do-Sol na Sunbridge Road

Às cinco da tarde  de um dia amarelo, a liberdade míngua à sete chaves no claustro de um apartamento - mas a lua da tarde, dona de ...