Relva verde, que cresce em tudo,
em mim, lá fora...
Os meus versos brotam na folha branca
com a mesma urgência
com que afloras.
No compasso flamenco
de violas estrangeiras,
sou eu mesmo um estrangeiro
dessas canções passageiras.
Sou o vento que parte,
invisível, e se faz ouvir.
Sou o vento que parte
o meu peito ao meio,
tocando-te a folhagem,
no porvir...
Relva verde,
sou a estiagem no fim de tarde...
Sou o vermelho do céu
no vinho tinto, que se esvai...
Sou o sal do mar, na onda que te invade,
e o sal da lágrima, que se despe e cai.
Sou o soluço mudo,
o acorde mais agudo
do fado rasgado –
feito a folha que descarto
deflorada por meus versos...
Enquanto meus olhos,
minhas reticências,
minhas entrelinhas...
dizem mais e mais.
Relve verde,
sou um poeta arruinado...
Sou o copo quebrado
depois de apreciado
o mais saboroso vinho.
Sou a curva no caminho,
o vento que uiva porque parte.
Sou a solidão do mundo
que cruzou teu absurdo,
e a dor da impossibilidade.
Quando, enfim, respirares fundo...
Oh! Relva verde, num segundo,
Terei partido, num fim de tarde.
Mas serei sempre o vento em teus cabelos
ao pôr-do-sol que te arde.
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