segunda-feira, 28 de maio de 2018

RELVA VERDE

Relva verde, que cresce em tudo,

em mim, lá fora...

Os meus versos brotam na folha branca

com a mesma urgência

com que afloras.

No compasso flamenco

de violas estrangeiras,

sou eu mesmo um estrangeiro

dessas canções passageiras.

Sou o vento que parte,

invisível, e se faz ouvir.

Sou o vento que parte

o meu peito ao meio,

tocando-te a folhagem,

no porvir...

 

Relva verde,

sou a estiagem no fim de tarde...

Sou o vermelho do céu

no vinho tinto, que se esvai...

Sou o sal do mar, na onda que te invade,

e o sal da lágrima, que se despe e cai.

Sou o soluço mudo,

o acorde mais agudo

do fado rasgado – 

feito a folha que descarto

deflorada por meus versos...

Enquanto meus olhos,

minhas reticências, 

minhas entrelinhas...

dizem mais e mais.

 

Relve verde,

sou um poeta arruinado...

Sou o copo quebrado

depois de apreciado

o mais saboroso vinho.

Sou a curva no caminho,

o vento que uiva porque parte.

Sou a solidão do mundo

que cruzou teu absurdo,

e a dor da impossibilidade.

Quando, enfim, respirares fundo...

Oh! Relva verde, num segundo,

Terei partido, num fim de tarde.

Mas serei sempre o vento em teus cabelos

ao pôr-do-sol que te arde.



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